23 de março de 2022

As viagens espirituais de Maria Mercedes: Capítulo X

 O PAVILHÃO

Dez de maio, de mil novecentos e noventa e um.


Era parte da manhã, quando comecei a sentir um cansaço fora do normal.
Sentia que minhas energias estavam sendo tiradas.
Minha vontade era só de descansar ou ao menos deitar. Relutei, mas acabei por vencida.
Quando reparei, estava deitada, sentindo muito frio.
Tratei de pegar uma manta e cobri-me.
Já achava-me desligada do corpo, quando encontrei-me frente a um pronto socorro espiritual.
Achei que jamais conseguiria adentrá-lo, pois estava muito difícil encontrar sua porta.
Foi quando meu mentor, preto velho, Pai Benedito do Oriente Maior, veio ao meu encontro.
Com a voz rouca e meiga, foi logo me dizendo:
- Sejas bem vinda!
E levou-me até os pés do Pai, dizendo-me:
- Filha , você precisa buscar energias! Vai precisar!
Eu, nervosa, não sabia como buscá-las. Fui então me acalmando, procurando me equilibrar.
Logo, senti-me mais calma, pois sabia que não estava só.
Lembrei-me das palavras e dos conselhos dos mentores:
"Onde Deus passou e está, nada tens a temer. A palavra chave é Amor".
Fui logo para as matas, rios e cachoeiras.
Encontrei me depois sobre um ponto alto, que dava de frente para o mar.
Recebendo aquele ar e os raios de sol em meu rosto, lembrei-me das palavras do preto velho e não saí dali.
Já me sentindo mais forte e uma energia maravilhosa, foi fácil buscar minha Guia Missionária, meu Povo e minha Estrela.
Nesta altura dos acontecimentos, sentia a presença de minha preta velha.
Ouvi também uma voz, dizendo-me que eu tinha de trocar a roupagem.
Essa voz foi chegando mais perto. Era uma entidade de luz, porém, não conseguia identificá-la.
Pegou-me pelas mãos e levou-me para um local, onde são realizados os Trabalhos de Cura.
Com uma voz autoritária e ao mesmo tempo suave, disse-me:
- Sente-se.
- Estou bem! - eu disse.
Em um tom tranquilo, expressando muito amor, novamente, dirigiu-me a palavra:
- Tua alma não.
Havia uma figura escura em minha frente, a qual foi clareando até atingir uma cor da qual não saberia descrever.
Em seguida, a entidade me disse:
- Está pronta. Vamos partir.
Lá, uma nave nos esperava, na qual uma porta se abriu automaticamente.
Estavam ali presentes minha preta velha, Mãe Conga, e minha Guia Missionária, que numa só voz disseram-me:
- Graças a Deus! Entre!
Entrei e partimos.
Quando paramos, nos encontrávamos em uma rua larga, de grandes casas brancas, todas iguais.
Na frente, havia belos jardins, todos de rosas do tipo das pequenas, as quais tinham um perfume delicado e agradável.
Depois de andarmos bastante, paramos em frente a uma grande casa, onde se lia: "O Pavilhão".
Entramos e fui andando num corredor, quando me deparei com uma porta de número 9 (nove), a qual me chamou muito a atenção.
Uma voz, então, perguntou-me:
- Está preparada?
- Sim. - respondi
A porta se abriu e então entrei.
Ali havia muitos leitos. Embora não conseguisse vê-los, sabia de alguma forma que eles existiam.
Continuei andando e deparei-me com uma cama, na qual se encontrava uma senhora deitada e toda amarrada.
Foi quando eu disse a ela num tom de voz firme, porém, com grande amor:
- Salve Deus!
Ah! Meu Pai! Eu a reconheci. Era minha falecida sogra, Florinda. Ela gemia e gritava palavrões, tudo ao mesmo tempo.
Receosa, sentindo medo e ternura simultaneamente, fui lhe dizendo Salve Deus por várias vezes, até que me ouvisse:
Aos gritos, ela me perguntou:
- Quem é você?
- Não importa quem sou, mas, sim, quem é você! Saia desta dor, desta escuridão que você se encontra! - respondi.
Aos gritos de ódio e maldade, continuou a me perguntar:
- Como?
- Com amor e com palavras em nome de Jesus Cristo, nosso Pai todo Poderoso! Olhe para tudo que você deixou na Terra!
- Impossível! - ela disse. - Odiei a todos! Não tenho Deus algum!
- Você é filha de Deus! Ele não te esqueceu! Você vai se lembrar de algum santo ou santa de sua devoção.
Ela sorriu, dando em seguida uma gargalhada com descaso e disse:
- Tem uma tal de Nossa Senhora de Aparecida, só que eu não acredito mais, pois pedi tanto a ela pra acabar com uma pessoa e quem acabou fui eu!
- Por isso, volto sempre. Quando tenho a oportunidade de fugir , é pra destruir esta pessoa!
 Por várias vezes, eu lhe disse:
- Salve Deus e graças ao Todo Poderoso!
E pedi a Jesus que a perdoasse.
Ela foi se acalmando e, em seguida, reconheceu-me com espanto:
- Você está morta também?!
- Estou como amiga, em nome de Deus e Nosso Senhor Jesus Cristo. - eu disse.
- Mas como?
- Através do Amor. Basta deixar esta luz entrar em você. - continuei - Ela é a Centelha Divina, a luz do amor de Deus.
Coloquei, então, as mãos sobre seu corpo e em posição pedi a misericórdia divina e aos mentores de cura, que recebessem as minhas súplicas em favor daquela irmã.
Ela foi lentamente respirando com calma.
Foi com alegria e lágrimas que ouvi ela dizer com a voz trêmula, porém, firme:
- Por favor, me perdoe por tudo que fiz você sofrer!
Eu, em nome de Deus e Jesus Cristo, disse-lhe:
- Descanse em paz. Deixe esta Cura Divina penetrar em você, pois é a Centelha Divina de Deus Pai.
Foi clareando todo o local, especialmente, aquele leito.
Já se encontrava ela dormindo, quando voltei amparada por aquela luz e por mãos carinhosas, que me levaram de volta à nave.
Não via quem era, mas sabia que não estava sozinha.
A nave percorreu todo o caminho de volta, sem que eu nada sentisse. Somente uma sensação de bem estar, aquela que vem da alma.
Voltei ao corpo e estava como havia me deitado.
Encontrava-me com uma grande paz interior, sensação de limpeza e firmeza, em Cristo Jesus.


Maria Mercedes