25 de junho de 2017

O Amanhecer das Princesas na Cachoeira do Jaguar: Capítulo VI


Salve Deus!
Meu filho Jaguar!
As trevas da noite nada significam para o espírito, pois este vê através do seu resplendor.
Sim, meu filho, declaro com toda confiança, que não está longe o dia em que a ciência irá se colocar diante desta realidade que é a reencarnação.
Ninguém poderá impedir o progresso. O mundo de hoje está brincando com fogo. O tempo, no espaço, não se registra. Não se sabe, porém os caminhos físicos. No centro nervoso da terra, tudo é lento, tudo vibra, para formar a harmonia no centro eterno do homem. Seus rápidos contactos do etereomagnético é o bem que lhes dá força. O homem, mesmo na sua inconsciência, confirma o seu penhor no eterno e junto aos seus velhos sábios, retorna ao seu sol interior.
Sim, meu filho, breves dias irão chegar em que o homem espiritualizado, será sentido pelo “PROFANO”, como uma música literária da mais alta sinfonia.
Sim, meu filho, segundo as leis e forças que governam todas as coisas que Deus criou, o homem na totalidade, sempre procura empregar sua força mais para impedir o desenvolvimento da terra. Vê-se assim, como a se punir pelas suas próprias leis. Leis sempre para punir outros e não sabem se desviarem e continuam a punir.
Sim, meu filho, não fácil abandonar a multidão. Fixar-se em si para buscar a verdade, é mais difícil, ainda, que permanecer com ela. Permanecer com a verdade quando a encontramos.
Sim, meu filho, com este espírito de lealdade vai encontrar o nosso povo na Cachoeira do Jaguar.
Foi tudo muito bem aquele primeiro dia. Curas, muitas curas, que se espalharam por toda parte. Luzes de longe se viam naquela cachoeira. Casados, naquela vida arrojada, pelos compromissos cármicos.
Pai João, amanheceu doente. Seis horas da manhã o céu não clareava, fazendo os pensamentos se encontrarem. Eufrásio entoava um “bendito” da igreja católica. Jurema juntou a roupa e desceu, com uma enorme trouxa, para a fonte e juntos com ela: Janaína, Jandáia e Janára. Alguns Nagôs já voltavam das caçadas e outros seguiam para as roças. As Sinhás preparavam a feijoada e outras, ainda,  reativavam o fogo da célebre fogueira.
Pai João, sentia a tristeza daquela gente e em sua mente começou a voltar, foi quando, Pai Zé Pedro, chegou fazendo algumas premunições. Si, Pai Zé Pedro, provia alguma dor devido também ao procedimento daquela gente.
Pai Zé Pedro estava triste porque Pai João já havia contado, certa comunicação sua com Vô Agripino. Que segundo os fenômenos habituais, a desarmonia, que há horas, estava se dando no grupo, era forçada pelas vibrações dos familiares de Janaína, eles acabariam descobrindo o seu paradeiro. Evidente, seria uma guerra. Perde Janaína, seria um terrível descontrole para Jurema. Seus pensamentos não chegaram a se conscientizarem.
Da entrada da aldeia, três cavaleiros, gritavam:
- Negros, queremos paz, porém, nos entregue a sinhazinha Janaína, por que o senhor seu pai pede a cabeça de todos vocês que roubaram a sinhazinha, sua filha.
- Ela não se encontra aqui. – Disse decidida Jurema. 
Janaína, que estava de cócoras, saiu correndo e entrou na cabana de Eufrásio, que tinha cravinote na sua cabeceira, para se defender de bichos (onças, lobos, etc..). Vendo Janaína tremendo de medo, segurou o cravinote e ficou ali a espreita do que desse e viesse.
- Ah! Foi horrível. Os homens, desceram dos cavalos e foram direto à cabana de Eufrásio, este fazendo um esforço acima de suas condições físicas, vendo o homem já pegar Janaína, segurou a arma e atirou no primeiro e no segundo e os dois ficaram caídos e o outro foi embora pela mata a dentro.
Pai João, mandou que desarreassem os cavalos e os juntasse a tropa.
Todos correram para a cabana de Eufrásio que só sabia dizer:
- Oh! Pai João, pelo amor de Deus, jamais pude pensar em tão criminoso gesto. Sim, Pai Zé Pedro, eu não podia deixar que ele pusesse a mão nesta criaturinha.
Nisto um urro, Reviraram o homem que estava de bruço, com a boca no chão, ele ainda estava vivo, porém, o outro, estava morto. Foi horrível. Ninguém sabia como proceder. Mas, q verdade não se pode esconder, estava um homem morto, e o outro ninguém sabia o seu estado de saúde. Somente quando o dia clareou é que foram dar conta da tragédia.
Eufrásio já estava só novamente.
Um grande grito se fez ouvir, era Eufrásio, estava sentado na cama.
- Sim. Pai João, Deus se compadeceu de mim, estou sentado. Oh! Pai Zé Pedro. Todos viraram-se para Eufrásio, ficando a dor da tragédia mais amena.
Maria Conga não parava, enquanto todos sofriam em seu pranto emocional, ela junto à Vovó Sabina e também alguns Nagôs, já haviam cuidado do morto e do ferido, e até já sabiam que o morto se chamava Crésio e o doente Amâncio e que, inclusiva, estavam por conta própria, ninguém os havia mandado ali. Eram os velhos reajustes da noite fatal, na Senzala.
Oh! Meu Deus! Gritavam todos. Eufrásio vai andas!
Entre lágrimas, gritos e emoções, Eufrásio, dava alguns passos pela mãos de muitas pessoas eufóricas, que chamavam aquele fenômeno de milagre.
Pai Zé Pedro, estava em conflito e foi atrás de Pai João.
- Como pode? Matou e ficou curado! Como Pode! João, um fenômeno deste?
- Caça-te, Zé Pedro, deixe de fazer julgamento. Estes três homens, não são e nem era mandados do pai de Janaína e sim estavam com má intenção na pobrezinha desta virgem. Olha Zé Pedro, já estamos aqui a mais de cinco anos, não está lembrado que o sinhozinho Erics, vendeu tudo que tinha e foi embora pensando que sua filha havia morrido afogada. Houve até uma lenda que Janaína aparecia cantando por cima das águas, nas noites de lua cheia. De um ano para cá, porém, alguém começou a desconfiar, que realmente, ela está aqui. Confiança, Zé Pedro, nas coisas de Deus. Estamos em maremoto, porém, para um nada. É confuso tudo isto, certo?
- Oh! João, graças a Deus, não sabe o bem que me fizeste.
Pai João mandou um recado para o sinhozinho de Pai Zé Pedro e este arrumou toda a situação ilegal, inclusiva, junto ao pequeno arraial de Abóboras.
Eufrásio realmente ficou bom. Então virou. Eufrásio queria procurar a família, os seus, e tão impaciente estava que já se aborrecia por qualquer coisa e por fim, se apaixonou pela meiga Iracema. Então, em tudo colocava amargura. Não parecia mais aquele Eufrásio, cheio de cuidados.
Certa noite, a lua estava cheia, ninguém se preocupava com a fogueira. Pai Zé Pedro e Pai João, estavam fora mais para longe da aldeia – e começaram a fazer as reparações.
Eufrásio, comentavam, como uma criatura podia se modificar, em tantos aspectos, em tão vil procedimento!
- É possível, João, alguém regredir tão depressa?
- Sim, Zé Pedro, naquela noite trágica, muita experiência Deus nos deu a luz do saber. E eis o que sei, meus contactos com Vô Agripino:
- Eufrásio foi somente um instrumento de nossa evolução – e, disse mais:
- que eu nunca me iludisse com o seu comportamento e nem tão pouco com a sua evolução.
Sim, tudo era compreensível, porquê o homem não se evolui em tão pouco tempo.
- Oh Meu Deus! Começo a compreender o que estamos passando.
Nisto chega Eufrásio.
- Pai João, vou-me embora, não estou suportando mais esta vida. Vou sair, vou procurar emprego aonde chegar. Darei noticias e jamais irei me esquecer de todos daqui e muito menos de vocês dois.
- Olhando, Pai Zé Pedro, que estufetado, não dissera uma só palavra, perguntou:
- Quando desejas partir?
- Agora- respondeu Eufrásio, e sem muitas despedidas. E foi embora, montado na mula do finado.
Pai João e Pai Zé Pedro e alguns Nagôs que já haviam se juntado ali, estavam perplexos, ninguém, ninguém deu uma só palavra, subiram até a aldeia, sem comentários e com toda mágoa no coração e se sentaram junto a fogueira. Jurema, virando-se para Zé Pedro, disse:
- Tenho pena de vosmecê e assim dizendo foi incorporando.
- Salve Deus! – era Vô Agripino – meus filhos! Eufrásio foi embora, cumpriu seu tempo com vocês, não se preocupem que ele não irá muito longe, fez grandes dívidas nestes arredores. Pagou sua dívida com Janaína e vai se encontrar com sua família, aí nas Abóboras e vocês, João e Zé Pedro, se preparam que virá uma ordem para vocês partires daqui.
- Nas Abóboras? Sua família aí tão pertinho? Perguntou Pai João.
- Sim, porém ele saiu daqui sem saber. Continuou Vô Agripina, sim vocês vão partir daqui, partir para bem longe, Jurema, Janaína, Iracema, Jandaia, Juremá, Janara, Iramar, Jazaíra e Jaiza, precisam casar.  Esta aldeia já não tem mais energia para vocês.
- Como? Sim, naquela noite, energia transcendental, herança que se encaminha na lei do auxílio.
Pai Zé Pedro e alguns Nagôs, estavam, ainda, decepcionados mal ouviam o que o Vô dizia.
Terminou a Sessão e todos tristes foram dormir.
Sim, nesta época, já vivam ali, naquela aldeia, 108 personagens. Era uma família, que com a saída de Eufrásio, ficaram bem mais unidos, só Deus, agora, daria o destino daquela gente.
Em volta da fogueira todos murchos, o coração de Pai João doía.
- Meus filhos, o homem não vive com o coração dilacerados pela desilusão. Não fiquem assim compungidos pela falta de Eufrásio.
- Sim, disseram todos, Eufrásio era tão bom, nos dava tantos conselhos, nos orientava em tudo, ele era tão bom, repetiam.
Pai João começou a pensar: “ Quando o homem se esquece das faltas do outro é por que está se evoluindo, ali naquele caso, todos só lembravam de Eufrásio na sua boa fase, Sim Iracema, a crioulinha mais indefesa, é a que mais fez sofrer.
-Zé Pedro, disse Pai João, estes são realmente os velhos reis e imperadores.
- Por quê? João afirmas com tanta euforia?
 - Zé Pedro, o homem que viveu em encarnação superior, digo, de procedência refinada, não perde a confiança em si mesmo, sempre estou a lhe passar o espírito de justiça e não se envolve com mesquinharias. Somos 108, sabe?
- Sim, eram todos Reis e Rainhas e todos, ainda, viverão muito tempo conosco.
- Deverás, disse Pai Zé Pedro, eles só se lembram de Eufrásio, de Eufrásio, em suas boas ações e de seu martírio, na cama.
Continuavam perto da fogueira. Jurema fazia previsões, chegando a vez de Iracema ela disse:
- Iracema, você voltará para ser a esposa de Petruceo. Sim, seguirá para muito longe. Iracema e Iramar atravessarão o espaço para receber a missão e depois voltarão esposas do mesmo Imperador.
- Eu? Disse Iracema. Esposa do Imperador?
- Sim, continuou, Jurema, cuja Imperador será Eufrásio, que neste instante, já se prepara para partir em ruma de sua missão.
Deverás, foi horrível aquela noite. Frustamento, sonhos pesados, porém, ninguém ousava dizer nada,, até que, Pai João, quebrou o silêncio.
- Sim, disse Jurema, uma morrerá e Iramar se casará por último e depois todos nós partiremos de lá para outro lugar aqui perto.
Ali, a vida continuava. Logo se acostumaram com a saída de Eufrásio. Reinava, agora, um suspense. Sempre sustos, reparações doutrinárias, uma harmonia quase de medo. Certo dia, Pai João, se juntou na fogueira e começou a falar:
- Vejam meus filhos, como a lei segura o homem. Vê-se, assim, como o homem pode ser punido pelas próprias leis que estabelece sem se desviar deles. São leis feitas, pelos homens, que punem. Os poderes superiores podem proteger o homem  das forças negativas que causam doenças e sofrimento, porém, o pedido de proteção, segurança contida de paz, harmonia do nosso todo, este é somente na lei do auxílio, fazendo a caridade é que abatemos na lei do nosso carma. O sofrimento de hoje é a luz do amanhã. Induvidualizamos a vida, e, no entanto, somos guiados por Deus. Há muitos séculos, o homem tentou criar e fez a força cega em si mesmo dirigida pelo Chefe das Almas.
Pai Zé Pedro ouvia atento as palavras de Pai João e re,oía em seu canto, a falta, a transformação de Eufrásio.
Em dado momento repetiu o mesmo, Pai Zé Pedro.
- João, o que é Deus? Não é dado ao homem conhecer Deus? Que por si mesmo deve compreender? Sabemos que um homem está com Deus, pelo seu procedimento. Por que regride o homem? Eufrásio estava em Deus, como pode cair tão de repente?
- Sim, Zé Pedro, cuidado com a tua força de pensar, você é um nego velho pro chicote e não para julgar com tanta convicção.
Os dois começaram a rir e João disse com amor:
- Sim, Zé Pedro ouça bem o que diz Vô Agripino:
- Deus é absolutamente fé, é absolutamente razão, e ser a razão, é ser a ciência, a ciência é a razão. Eufrásio não estava em Deus, Deus tentava penetrar apenas em seu coração, como tocou ao vosso naquela noite.
- Como? Pergunta Zé Pedro.
- Assumindo com Eufrásio os seus desatinos! Afirmou Pai João.
- Então, tudo perdido? Indagou Zé Pedro.
- Não, Zé Pedro, nada se perdeu, muito pelo contrário Eufrásio saiu para cumprir seu destino. Deus não lhe daria perdão de suas faltas, por aquele curto tempo em que esteve  para lítico aqui na cabana. Espancou muitos homens, foi o pivô da noite trágica. Quantas mortes em seu nome? Tudo o que aconteceu foi a bem do seu espírito, não se esqueça do que disse o Caboclo Pena Branca:
- Breve, muito breve, iremos nos encontrar. Salve Deus!
- João, na verdade o homem não tem capacidade de julgar o outro.
Os dois começaram a sorrir, achando graça daquelas coisas que falaram e que tanto lhes fizera bem. Tudo vinha de Vô Agripino à Pai João.
Felizes, felizes estavam agora. Recordavam de sua vida passada, o porquê daquela escravidão.
A felicidade, porém, durou pouco, como por encanto um temporal, como um furacão, ameaçava aquela aldeia – o mar crescia, as árvores chegavam suas copas no chão., Pai Zé Pedro e Pai João, juntavam-se a todos e em súplicas olhavam o céu. As palavras de Vô Agripino eram agora o leme daquele povo:
- CORAGEM, FIRMEZA, A FÉ, O AMOR, SÓ DEUS. 
Quando a voz, do Índio Estrangeiro, como uma melodia de paz, se fez ouvir:
_ COMO SE TUDO PARASSE, É A HORA DE POMPÉIA, E TODOS EM DEUS PAI TODO PODEROSOS, foi a voz direta.
Todos ouviam e viam seus olhos verdes incomparáveis, iluminando naquela escuridão. Logo todos estavam juntos.
Oh! Meu Deus, em que plano? Em que dimensão? Foram todos ou ficou alguém, algum daqueles pobres missionários.
Meu Filho Jaguar! Nós veremos na próxima semana um outro capítulo, porque Rafael, Jorge, Vildinha, Soares e Izaura precisam de mim, e eu, sua Mãe em Cristo, vou atendê-los.
Sua Mãe, em Cristo. 

TIA NEIVA

Vale do Amanhecer, 16 de maio de 1980