Salve
Deus!
Meu
filho Jaguar!
As
trevas da noite nada significam para o espírito, pois este vê através do seu
resplendor.
Sim,
meu filho, declaro com toda confiança, que não está longe o dia em que a
ciência irá se colocar diante desta realidade que é a reencarnação.
Ninguém
poderá impedir o progresso. O mundo de hoje está brincando com fogo. O tempo,
no espaço, não se registra. Não se sabe, porém os caminhos físicos. No centro
nervoso da terra, tudo é lento, tudo vibra, para formar a harmonia no centro
eterno do homem. Seus rápidos contactos do etereomagnético é o bem que lhes dá
força. O homem, mesmo na sua inconsciência, confirma o seu penhor no eterno e
junto aos seus velhos sábios, retorna ao seu sol interior.
Sim,
meu filho, breves dias irão chegar em que o homem espiritualizado, será sentido
pelo “PROFANO”, como uma música literária da mais alta sinfonia.
Sim,
meu filho, segundo as leis e forças que governam todas as coisas que Deus criou,
o homem na totalidade, sempre procura empregar sua força mais para impedir o
desenvolvimento da terra. Vê-se assim, como a se punir pelas suas próprias
leis. Leis sempre para punir outros e não sabem se desviarem e continuam a
punir.
Sim,
meu filho, não fácil abandonar a multidão. Fixar-se em si para buscar a
verdade, é mais difícil, ainda, que permanecer com ela. Permanecer com a
verdade quando a encontramos.
Sim,
meu filho, com este espírito de lealdade vai encontrar o nosso povo na
Cachoeira do Jaguar.
Foi
tudo muito bem aquele primeiro dia. Curas, muitas curas, que se espalharam por
toda parte. Luzes de longe se viam naquela cachoeira. Casados, naquela vida
arrojada, pelos compromissos cármicos.
Pai
João, amanheceu doente. Seis horas da manhã o céu não clareava, fazendo os
pensamentos se encontrarem. Eufrásio entoava um “bendito” da igreja católica. Jurema juntou a roupa e desceu, com uma
enorme trouxa, para a fonte e juntos com ela: Janaína, Jandáia e Janára. Alguns Nagôs já voltavam das
caçadas e outros seguiam para as roças. As Sinhás preparavam a feijoada e
outras, ainda, reativavam o fogo da
célebre fogueira.
Pai
João, sentia a tristeza daquela gente e em sua mente começou a voltar, foi
quando, Pai Zé Pedro, chegou fazendo algumas premunições. Si, Pai Zé Pedro,
provia alguma dor devido também ao procedimento daquela gente.
Pai
Zé Pedro estava triste porque Pai João já havia contado, certa comunicação sua
com Vô Agripino. Que segundo os fenômenos habituais, a desarmonia, que há
horas, estava se dando no grupo, era forçada pelas vibrações dos familiares de Janaína, eles acabariam descobrindo o
seu paradeiro. Evidente, seria uma guerra. Perde Janaína, seria um terrível descontrole
para Jurema. Seus pensamentos não
chegaram a se conscientizarem.
Da
entrada da aldeia, três cavaleiros, gritavam:
-
Negros, queremos paz, porém, nos entregue a sinhazinha Janaína, por que o senhor seu pai pede a cabeça de todos vocês que
roubaram a sinhazinha, sua filha.
-
Ela não se encontra aqui. – Disse decidida Jurema.
Janaína, que estava de cócoras, saiu
correndo e entrou na cabana de Eufrásio, que tinha cravinote na sua cabeceira,
para se defender de bichos (onças, lobos, etc..). Vendo Janaína tremendo de medo, segurou o cravinote e ficou ali a
espreita do que desse e viesse.
-
Ah! Foi horrível. Os homens, desceram dos cavalos e foram direto à cabana de
Eufrásio, este fazendo um esforço acima de suas condições físicas, vendo o
homem já pegar Janaína, segurou a
arma e atirou no primeiro e no segundo e os dois ficaram caídos e o outro foi
embora pela mata a dentro.
Pai
João, mandou que desarreassem os cavalos e os juntasse a tropa.
Todos
correram para a cabana de Eufrásio que só sabia dizer:
-
Oh! Pai João, pelo amor de Deus, jamais pude pensar em tão criminoso gesto.
Sim, Pai Zé Pedro, eu não podia deixar que ele pusesse a mão nesta criaturinha.
Nisto
um urro, Reviraram o homem que estava de bruço, com a boca no chão, ele ainda
estava vivo, porém, o outro, estava morto. Foi horrível. Ninguém sabia como
proceder. Mas, q verdade não se pode esconder, estava um homem morto, e o outro
ninguém sabia o seu estado de saúde. Somente quando o dia clareou é que foram
dar conta da tragédia.
Eufrásio
já estava só novamente.
Um
grande grito se fez ouvir, era Eufrásio, estava sentado na cama.
-
Sim. Pai João, Deus se compadeceu de mim, estou sentado. Oh! Pai Zé Pedro.
Todos viraram-se para Eufrásio, ficando a dor da tragédia mais amena.
Maria
Conga não parava, enquanto todos sofriam em seu pranto emocional, ela junto à
Vovó Sabina e também alguns Nagôs, já haviam cuidado do morto e do ferido, e
até já sabiam que o morto se chamava Crésio e o doente Amâncio e que,
inclusiva, estavam por conta própria, ninguém os havia mandado ali. Eram os
velhos reajustes da noite fatal, na Senzala.
Oh!
Meu Deus! Gritavam todos. Eufrásio vai andas!
Entre
lágrimas, gritos e emoções, Eufrásio, dava alguns passos pela mãos de muitas
pessoas eufóricas, que chamavam aquele fenômeno de milagre.
Pai
Zé Pedro, estava em conflito e foi atrás de Pai João.
-
Como pode? Matou e ficou curado! Como Pode! João, um fenômeno deste?
-
Caça-te, Zé Pedro, deixe de fazer julgamento. Estes três homens, não são e nem
era mandados do pai de Janaína e sim
estavam com má intenção na pobrezinha desta virgem. Olha Zé Pedro, já estamos
aqui a mais de cinco anos, não está lembrado que o sinhozinho Erics, vendeu
tudo que tinha e foi embora pensando que sua filha havia morrido afogada. Houve
até uma lenda que Janaína aparecia
cantando por cima das águas, nas noites de lua cheia. De um ano para cá, porém,
alguém começou a desconfiar, que realmente, ela está aqui. Confiança, Zé Pedro,
nas coisas de Deus. Estamos em maremoto, porém, para um nada. É confuso tudo
isto, certo?
-
Oh! João, graças a Deus, não sabe o bem que me fizeste.
Pai
João mandou um recado para o sinhozinho de Pai Zé Pedro e este arrumou toda a
situação ilegal, inclusiva, junto ao pequeno arraial de Abóboras.
Eufrásio
realmente ficou bom. Então virou. Eufrásio queria procurar a família, os seus,
e tão impaciente estava que já se aborrecia por qualquer coisa e por fim, se
apaixonou pela meiga Iracema. Então,
em tudo colocava amargura. Não parecia mais aquele Eufrásio, cheio de cuidados.
Certa
noite, a lua estava cheia, ninguém se preocupava com a fogueira. Pai Zé Pedro e
Pai João, estavam fora mais para longe da aldeia – e começaram a fazer as
reparações.
Eufrásio,
comentavam, como uma criatura podia se modificar, em tantos aspectos, em tão
vil procedimento!
- É
possível, João, alguém regredir tão depressa?
-
Sim, Zé Pedro, naquela noite trágica, muita experiência Deus nos deu a luz do
saber. E eis o que sei, meus contactos com Vô Agripino:
- Eufrásio foi somente um instrumento de
nossa evolução – e, disse mais:
-
que eu nunca me iludisse com o seu comportamento e nem tão pouco com a sua
evolução.
Sim,
tudo era compreensível, porquê o homem não se evolui em tão pouco tempo.
-
Oh Meu Deus! Começo a compreender o que estamos passando.
Nisto
chega Eufrásio.
-
Pai João, vou-me embora, não estou suportando mais esta vida. Vou sair, vou
procurar emprego aonde chegar. Darei noticias e jamais irei me esquecer de
todos daqui e muito menos de vocês dois.
-
Olhando, Pai Zé Pedro, que estufetado, não dissera uma só palavra, perguntou:
-
Quando desejas partir?
-
Agora- respondeu Eufrásio, e sem muitas despedidas. E foi embora, montado na
mula do finado.
Pai
João e Pai Zé Pedro e alguns Nagôs que já haviam se juntado ali, estavam
perplexos, ninguém, ninguém deu uma só palavra, subiram até a aldeia, sem
comentários e com toda mágoa no coração e se sentaram junto a fogueira. Jurema, virando-se para Zé Pedro,
disse:
-
Tenho pena de vosmecê e assim dizendo foi incorporando.
-
Salve Deus! – era Vô Agripino – meus filhos! Eufrásio foi embora, cumpriu seu
tempo com vocês, não se preocupem que ele não irá muito longe, fez grandes
dívidas nestes arredores. Pagou sua dívida com Janaína e vai se encontrar com
sua família, aí nas Abóboras e vocês, João e Zé Pedro, se preparam que virá uma
ordem para vocês partires daqui.
-
Nas Abóboras? Sua família aí tão pertinho? Perguntou Pai João.
-
Sim, porém ele saiu daqui sem saber. Continuou Vô Agripina, sim vocês vão
partir daqui, partir para bem longe, Jurema, Janaína, Iracema, Jandaia, Juremá, Janara, Iramar, Jazaíra e Jaiza,
precisam casar. Esta aldeia já não tem
mais energia para vocês.
-
Como? Sim, naquela noite, energia transcendental, herança que se encaminha na
lei do auxílio.
Pai
Zé Pedro e alguns Nagôs, estavam, ainda, decepcionados mal ouviam o que o Vô
dizia.
Terminou
a Sessão e todos tristes foram dormir.
Sim,
nesta época, já vivam ali, naquela aldeia, 108 personagens. Era uma família,
que com a saída de Eufrásio, ficaram bem mais unidos, só Deus, agora, daria o
destino daquela gente.
Em
volta da fogueira todos murchos, o coração de Pai João doía.
-
Meus filhos, o homem não vive com o coração dilacerados pela desilusão. Não
fiquem assim compungidos pela falta de Eufrásio.
-
Sim, disseram todos, Eufrásio era tão bom, nos dava tantos conselhos, nos
orientava em tudo, ele era tão bom, repetiam.
Pai
João começou a pensar: “ Quando o homem se esquece das faltas do outro é por
que está se evoluindo, ali naquele caso, todos só lembravam de Eufrásio na sua
boa fase, Sim Iracema, a crioulinha mais indefesa, é a que mais fez sofrer.
-Zé
Pedro, disse Pai João, estes são realmente os velhos reis e imperadores.
-
Por quê? João afirmas com tanta euforia?
- Zé Pedro, o homem que viveu em encarnação
superior, digo, de procedência refinada, não perde a confiança em si mesmo,
sempre estou a lhe passar o espírito de justiça e não se envolve com
mesquinharias. Somos 108, sabe?
-
Sim, eram todos Reis e Rainhas e todos, ainda, viverão muito tempo conosco.
-
Deverás, disse Pai Zé Pedro, eles só se lembram de Eufrásio, de Eufrásio, em
suas boas ações e de seu martírio, na cama.
Continuavam
perto da fogueira. Jurema fazia
previsões, chegando a vez de Iracema
ela disse:
- Iracema, você voltará para ser a esposa
de Petruceo. Sim, seguirá para muito longe. Iracema e Iramar
atravessarão o espaço para receber a missão e depois voltarão esposas do mesmo
Imperador.
-
Eu? Disse Iracema. Esposa do
Imperador?
-
Sim, continuou, Jurema, cuja
Imperador será Eufrásio, que neste instante, já se prepara para partir em ruma
de sua missão.
Deverás,
foi horrível aquela noite. Frustamento, sonhos pesados, porém, ninguém ousava
dizer nada,, até que, Pai João, quebrou o silêncio.
-
Sim, disse Jurema, uma morrerá e Iramar se casará por último e depois
todos nós partiremos de lá para outro lugar aqui perto.
Ali,
a vida continuava. Logo se acostumaram com a saída de Eufrásio. Reinava, agora,
um suspense. Sempre sustos, reparações doutrinárias, uma harmonia quase de
medo. Certo dia, Pai João, se juntou na fogueira e começou a falar:
-
Vejam meus filhos, como a lei segura o homem. Vê-se, assim, como o homem pode
ser punido pelas próprias leis que estabelece sem se desviar deles. São leis
feitas, pelos homens, que punem. Os poderes superiores podem proteger o
homem das forças negativas que causam
doenças e sofrimento, porém, o pedido de proteção, segurança contida de paz,
harmonia do nosso todo, este é somente na lei do auxílio, fazendo a caridade é que
abatemos na lei do nosso carma. O sofrimento de hoje é a luz do amanhã.
Induvidualizamos a vida, e, no entanto, somos guiados por Deus. Há muitos
séculos, o homem tentou criar e fez a força cega em si mesmo dirigida pelo
Chefe das Almas.
Pai
Zé Pedro ouvia atento as palavras de Pai João e re,oía em seu canto, a falta, a
transformação de Eufrásio.
Em
dado momento repetiu o mesmo, Pai Zé Pedro.
-
João, o que é Deus? Não é dado ao homem conhecer Deus? Que por si mesmo deve
compreender? Sabemos que um homem está com Deus, pelo seu procedimento. Por que
regride o homem? Eufrásio estava em Deus, como pode cair tão de repente?
-
Sim, Zé Pedro, cuidado com a tua força de pensar, você é um nego velho pro
chicote e não para julgar com tanta convicção.
Os
dois começaram a rir e João disse com amor:
-
Sim, Zé Pedro ouça bem o que diz Vô Agripino:
-
Deus é absolutamente fé, é absolutamente razão, e ser a razão, é ser a ciência,
a ciência é a razão. Eufrásio não estava em Deus, Deus tentava penetrar apenas
em seu coração, como tocou ao vosso naquela noite.
-
Como? Pergunta Zé Pedro.
-
Assumindo com Eufrásio os seus desatinos! Afirmou Pai João.
-
Então, tudo perdido? Indagou Zé Pedro.
-
Não, Zé Pedro, nada se perdeu, muito pelo contrário Eufrásio saiu para cumprir
seu destino. Deus não lhe daria perdão de suas faltas, por aquele curto tempo
em que esteve para lítico aqui na
cabana. Espancou muitos homens, foi o pivô da noite trágica. Quantas mortes em
seu nome? Tudo o que aconteceu foi a bem do seu espírito, não se esqueça do que
disse o Caboclo Pena Branca:
-
Breve, muito breve, iremos nos encontrar. Salve Deus!
-
João, na verdade o homem não tem capacidade de julgar o outro.
Os
dois começaram a sorrir, achando graça daquelas coisas que falaram e que tanto
lhes fizera bem. Tudo vinha de Vô Agripino à Pai João.
Felizes,
felizes estavam agora. Recordavam de sua vida passada, o porquê daquela
escravidão.
A
felicidade, porém, durou pouco, como por encanto um temporal, como um furacão,
ameaçava aquela aldeia – o mar crescia, as árvores chegavam suas copas no
chão., Pai Zé Pedro e Pai João, juntavam-se a todos e em súplicas olhavam o
céu. As palavras de Vô Agripino eram agora o leme daquele povo:
- CORAGEM, FIRMEZA, A FÉ, O AMOR, SÓ DEUS.
Quando
a voz, do Índio Estrangeiro, como uma melodia de paz, se fez ouvir:
_ COMO
SE TUDO PARASSE, É A HORA DE POMPÉIA, E TODOS EM DEUS PAI TODO PODEROSOS, foi a
voz direta.
Todos
ouviam e viam seus olhos verdes incomparáveis, iluminando naquela escuridão.
Logo todos estavam juntos.
Oh!
Meu Deus, em que plano? Em que dimensão? Foram todos ou ficou alguém, algum
daqueles pobres missionários.
Meu
Filho Jaguar! Nós veremos na próxima semana um outro capítulo, porque Rafael,
Jorge, Vildinha, Soares e Izaura precisam de mim, e eu, sua Mãe em Cristo, vou
atendê-los.
Sua
Mãe, em Cristo.
TIA NEIVA
Vale
do Amanhecer, 16 de maio de 1980