9 de junho de 2016

Recordações


Salve Deus!

NOVE DE JUNHO DE 1960. Data Inesquecível!
Caminhava, guiada pela grande convicção de que tudo, vindo de meu Pai Seta Branca, estava certo. Com as aspirações mais secretas, indefinida, eu caminhava naquela minha solidão, hoje também distante.
Sim, caminhava, e, para mim, cada dia e cada noite embrenhava no mais profundo mistério.
9 de junho de 1960... Solidão...Tristeza...
Caminhava, quando deparei comigo mesma. Com profundo desamor, não me preocupei de estar onde estava, ou com o que poderia acontecer com o meu corpo, onde estava.
Levei os olhos para cima. Vi, senti que estava na Terra. Aquelas árvores frondosas me davam medo. Senti estar atravessando um caudaloso rio. Deparei com uma pequena clareira que, não sei porque, me parecia familiar.
Comecei a ouvir vozes e vi, num quase balé, dançando uma linda mulher, vestida de cigana, onde também haviam homens ciganos, vestidos com muito bom gosto, alguns tocando violino.
Uma voz, em harmonia, chegou aos meus ouvidos, como que querendo me amparar:
- É uma tenda cigana. É a tua origem e de todo o teu povo! ...
Comecei, então, a raciocinar, o que, até então, não fizera. Por que tanta solidão? Por que tanto mistério e de que me servirá todo esse conhecimento? Não obtive resposta. E, alheios aos meus sentimentos, aquelas lindas pessoas cantavam e dançavam em sua alegria singular. Comecei a pensar, pensar sem qualquer afirmação, esses pensamentos que a gente pensa sem saber porque. Eles se amavam. Eu vi a ternura entre eles. Casais, juntinhos, se acariciavam, porém sem um toque de sensualidade.
O meu coração se enchia de ternura, algo que até então não sentira.
A volta foi mais leve, porque comecei a sentir inveja daquela gente ...
Salve Deus!

TIA NEIVA

Vale do Amanhecer, 06/08/1979.