21 de abril de 2016

Um lugar chamado Ponta Negra


Meu filho Jaguar,
Salve Deus!

Esta cartinha é para sua individualidade, é para que se lembre que estou aqui, sem poder sair, porém saudosa e me preocupando com você.
Filho: estamos vivendo a moderna vida doutrinária, nos limites de nossas forças. Sim, filho, movimento espontâneo das almas, desta era para o III Milênio! Não se deixe confundir, filho, nem por mim nem por ninguém. Viva onde seu coração sentir expansão, sem conflito! Não se nivele aos aliciadores- não responda e não se exalte. Não se preocupe, porque cada um prestará contas somente a Deus, que é a sua própria consciência - o que é o mesmo.
Pai Joaquim sempre me pergunta: 
- Como vai a sua obra orgânica?
Sim, filho, vamos procurar a sintonia com as nossas coisas mais sagradas, sempre melhorando, e você melhorando o seu ALEDÁ.
O motivo desta carta foi uma "viagem" que eu fiz.
Todas as madrugadas eu faço o seguinte juramento:
- Jesus! Arranque meus olhos no dia em que, por vaidade, eu tentar enganar os que me cercam, quando, desesperados, me procurarem. Serei sábia, porque viverás em mim!...
Filho! Como sabe, Deus permitiu que eu tivesse o que é meu- um cantinho nas imediações dos Umbrais, no lugar chamado PONTA NEGRA. Eram 3 horas da madrugada, e eu ali estava, inquieta, como se alguma coisa estivesse para acontecer.
Realmente, não demorou muito e apareceu uma mulher que se debatia com três elítrios, gritando:
- Oh! Meu Deus! De onde vieram estes bichos horríveis? 
Vi então quando chegou alguém, e ela, sofrida, contava sua estória.
Nisso, chegou Pai Joaquim das Almas, que me assiste em minhas viagens em outros planos. Pedi-lhe a bênção e que me explicasse o que se passava com aquela mulher.
- Essa mulher- explicou-me ele- amava um homem e por ele foi amada, no amor da afinidade das almas afins. Porém, o seu amor era obsessivo. Ele se evoluiu, enquanto ela não aceitava as coisas que aconteciam. Ele encontrou o Vale do Amanhecer. Ele era um pobre homem, sem luz mas era um JAGUAR- e ela também.
- Então, eles eram felizes e o Vale os separou? - perguntei.
- Filha, a missão é do missionário! O Jaguar não é espírito resignado. Em seu peito palpita a esperança, e ele vive a buscar, a conhecer o alto, os sentimentos. Filha! A esperança é uma planta que revive em nosso sol interior. Essa mulher era esposa de um Mestre Jaguar. Amavam-se muito, porém o Jaguar tem seu destino traçado pela Doutrina. Apesar do amor, ela não confiava nele, e, ainda assim, não o acompanhou. O pobre Amaro vivia sob o jugo de Marta e ela o caluniava, destruindo seus momentos felizes. Quando chegou à Doutrina, Amaro, lançou-se a ela com amor e dedicação, trocando suas tardes de acusações e cenas de ciúmes pela realização no trabalho doutrinário. O Jaguar do Amanhecer, lembre-se, é o trabalhador da última hora, é homem designado à condução  de povos. Sua companheira é responsável, também, pela mesma missão. Amaro, cansado das eternas acusações de ser infiel e mau caráter, não aguentou mais: abandonou Marta, e foi seguir sua missão. Ela, que jamais imaginara que isso aconteceria um dia, sempre procurando motivos para o magoar, sentiu-se perdida. E suicidou-se, deixando uma carta acusadora, tentando, nesse último gesto, criar uma situação pior para Amaro. Ela até se esquecera que a própria família dela o entendia e ficava ao seu lado. Tanto assim que, naquele dia, ele não fora ao Vale e, sim almoçava com os pais de Marta, que o adoravam.
E eu que pensara que ela estava chegando! No entanto, já estava ali há três meses... Fiz uma prece, e formei o IABÁ.
Imediatamente, os elítrios a libertaram, voltando para Deus.
Sua passagem foi tão ligeira que nem houve tempo de recuperação. Por que se foram tão facilmente? É tão difícil conjugar a vida em dois planos...
- Sim, filha- continuou Pai Joaquim - Olha que está chegando!
Era Enóbio, acompanhado de um índio muito bonito. Pedi a bênção a Enóbio, que me disse ser o índio a alma gêmea de Marta.
Por que julgar? Por que tentar mudar as criaturas?
Compreendi que Marta e Amaro haviam completado o seu tempo na Terra. Como é perfeita essa criação! Mais uma vez repito:
- COMO É DIFÍCIL JULGAR OS NOSSOS SENTIMENTOS DE VIDA E MORTE!

Com carinho, a mãe em Cristo Jesus,

TIA NEIVA

Vale do Amanhecer, 11/07/1983.