A FESTA NA CACHOEIRA
Estava em retiro espiritual, na casa de meu "Pai", cantarolando feliz, porém, as músicas e as letras não eram de meu conhecimento.
Sentia o corpo solto e as palavras saiam limpas, as quais eram de origem africana, parecendo também com o latim.
Eu não entendi nada, mas, assim mesmo, cantava normalmente, como se estivesse entendendo.
Mais tarde, depois do almoço, deitei-me e como já é de costume, nada estranhei.
Logo adormeci e então, já me encontrava frente a uma linda cachoeira, a qual já havia visitado várias vezes. Dei-lhe o nome de "Cachoeira Encantada".
Assim que cheguei, fui levada pelas mãos carinhosas de minha querida mentora e amiga preta velha, a qual, num tom suave, disse-me:
- Filha. Sempre que precisar de ajuda, você vai encontrar aqui tudo o que necessita: paz, equilíbrio e saúde.
Eu sabia e via que lá estavam preparando algum festejo, pois o local estava diferente: sentia-se no ar uma sublime harmonia. Ouvia-se também o toque de uma melodia, a qual invadia a alma e as águas batiam nas pedras, fazendo um barulho diferente.
No dia anterior, eu havia libertado-me de um trabalho especial.
Logo, veio ao meu encontro uma mentora, a qual chamo de Madrinha.
Com amor, ela me disse:
- Seja bem vinda!
Respondi com o mesmo carinho e fiquei parada, pois sentia que não estava só. Era a presença dos mentores, dentre os quais, estava minha Guia Missionária, num traje rosa, de tecido fino, e um manto que lhe cobria até os pés. Seus cabelos eram presos por flores.
Encontrava-me frente àquela imensa cachoeira, olhando suas águas caírem. Olhava também para o alto, até onde minha vista alcançava.
Sentindo a presença dos mentores que eram do Povo das Cachoeiras e das Matas, ouvi dizer carinhosamente:
- Filha. Estes são o teu povo. Não te assustes, porque atrás deles, tem muito mais!
Eu não conseguia distinguir.
Fomos então andando por entre as pedras, até chegarmos aos pés da cachoeira, onde se despejavam suas fortes quedas d'águas.
Em seguida, formou-se um tapete de flores, sobre o qual pomo-nos a caminhar.
Quando chegamos no meio do tapete, olhei para cima e vi que lá havia alguma coisa preparada.
Uma voz com ternura disse-me:
- Chegou a hora! Vamos lá!
Como magia dos contos de fadas, aquele tapete sob nós, começou a flutuar suavemente, até que lá em cima chegou.
Só posso dizer que estrava sob um belíssimo encanto e magia de amor.
O sol já se fazia esconder com seus raios, porém, seu crepúsculo ainda se fazia presente, o que dava magia ao clarão da lua, que aos poucos, tomava conta e clareava tudo novamente. Onde eu me encontrava, sentia seus raios mais brilhantes. Era uma beleza e encanto da Mãe Natureza!
De costas para a cachoeira, eu via que estava na presença de um mentor especial, o qual me mandou saudar à Mãe Oxum, aos meus pretos velhos, à minha Guia Missionária, a Pai João, a Pai Zé Pedro e a muitos outros, não me esquecendo também do Sol e da Lua.
Encantada com tudo aquilo, surgiu em minha mente a seguinte pergunta: Será verdade ou só uma ilusão?
Foi quando se aproximou de mim minha querida preta velha: Mãe Conga das Correntes Indianas e me disse:
- Filha, tenta voltar ao teu corpo sem minha ordem.
Tentei, porém, nada consegui. Ela, sorrindo, disse-me:
- Conseguistes?
Então, abaixei a cabeça envergonhada. Foi quando vi que as duas queridas mentoras seguravam nas mãos: uma, uma capa e a outra, uma coroa, as quais a meus olhos pareciam ser de água cristalina, com pingos de cristais.
Em seguida, minha preta velha me disse com ternura:
- Chegou a tua oportunidade de mostrar o teu amor.
E então, colocaram em minhas mãos as duas peças, dizendo-me:
- Filha, terás que chegar até as águas, onde te esperam.
Parecia longe, porém, sem me preocupar, comecei a descer pelo tapete, no qual não sentia meus pés.
Eu ia bem devagarinho, com muitas atenção, para não errar.
Lembrava-me das palavras de meu petro velho:
- Filha! Passos firmes, pequenos, porém, lentos"
Ah! Jesus, meu querido pai e amigo!
Para minha surpresa e alegria, quem lá me esperava, era o meu querido e idolatrado amigo: Pai Benedito do Oriente Maior.
Que surpresa boa!
Tranquilo como sempre, disse-me:
- Filha querida. Seja bem vinda ao teu mundo.
Emocionada e feliz, entreguei-me nas suas mãos.
Contudo, sem entender, sentia-o colocar em minhas costas aquela capa e na cabeça, a coroa.
Naquele mesmo instante, ouvi uma linda melodia em vozes.
Aquele canto misturava-se com o barulho das águas e com os raios lunares, o que estremecia todo o local.
Aquilo era uma incrível magia e encanto.
Quando Pai Benedito acabou de colocar-me aquelas lindas vestes, as mesmas, como um toque de mágica, se desfizeram em meu corpo, desaparecendo gradativamente da minha cabeça, descendo até os meus pés.
Era algo muito encantador. Não sei bem se estou descrevendo tudo fielmente, embora muito me esforcei.
Pai Benedito, com a voz calma e serena, disse-me:
- Filha querida. Estás prontas. Estamos investindo em você!
- Foste a escolhida! Não que sejas a melhor!
- És uma missionária, uma sacerdotisa do amor e da paz!
- Tens muito a fazer!
- Cuidado com as palavras, porque elas são como flechas: onde batem deixam marcas, pois seus caminhos são cheios de espinhos e rosas!
- Não te iludas! Tê coragem, garra e amor!
Para mim, parecia um sonho, muito embora não fosse. Estava diante de uma grande veracidade, em Cristo Jesus!
A música continuava tocando e as duas queridas mentoras já se encontravam perto de mim e me passaram segurança, dizendo num tom suave e de grande ternura:
- Salve Deus, em nome dos vossos mentores!
Em seguida, voltamos ao mesmo lugar onde as havíamos nos encontrado. Continuava ouvindo, ao longe, aquela linda melodia. Ouvia também minha querida Madrinha dizendo:
- Agora é hora voltar ao teu corpo.
Acordei e levantei com uma sensação de limpeza e pureza, a qual não sei como explicar.
Lembro-me, porém, de uma coisa importante: minha querida Madrinha ainda me disse:
- Filha! Muito amor! Amor e tolerância!
Com Cisto, em Cristo. Graças a Deus.
Maria Mercedes.