A Casa
Grande repousava após mais um dia de agitada atividade.
Em torno dela, no
lusco-fusco da madrugada ouvia-se apenas os apitos monótonos dos guardas
noturnos, os passos de algum retardatário e o ruidoso roncar dos carros que
passavam no asfalto a dois quarteirões de distância. O quase silêncio, a
disposição das ruas e casas, faziam pensar que se tratava de uma pequena cidade
do interior. Na verdade a Casa Grande era localizada no coração da cidade mais
moderna do Mundo, na cidade de Taguatinga, em Brasília.
Esse contraste,
entre um sistema de habitação relativamente pobre, a maioria das casas feitas
de madeira, as ruas laterais sem asfalto ou esgoto, era também peculiar da Casa
Grande.
Oficialmente ela
era apenas a residência de Tia Neiva e o orfanato chamado de “Lar das Crianças
de Matildes”. Ali viviam cerca de cem pessoas, entre crianças e adultos na
maior simplicidade, mas, ao mesmo tempo, era a sede, o coração da Doutrina
Crística praticada com a maior autenticidade.
O Templo do
Amanhecer ficava a três quadras de distância, mas seu papel de abrigo aos
angustiados, era exercido realmente quando Tia Neiva estava presente. Naqueles
dois pontos de Taguatinga a pequena multidão diária ia e vinha e a pergunta era
sempre a mesma: – TIA NEIVA ESTÁ NO TEMPLO? Ou então: – TIA NEIVA ESTÁ EM CASA?
Deitada e com os
olhos fechados Tia Neiva parecia dormir. Na verdade sua mente ágil trabalhava
incessantemente. Um a um ela ia repassando os assuntos mais próximos do dia que
findara. Pensava na dispensa que teria que ser reabastecida ainda para o
almoço; naquele menino sem documentos que precisava trabalhar; no internamento
daquela mulher cheia de filhos que precisava de hospital (É – pensava ela – O
JEITO É FICAR COM OS MENINOS – MAS ONDE COLOCA-LOS?); no Senador que estava
aflito com seu filho viciado; na moça que a procurara logo cedo dizendo que
estava grávida e que seu pai a mataria se soubesse; no homem cujo barraco pegar
fogo e não tinha onde se abrigar com a família; na televisão dos meninos que
precisava de conserto...
E assim, desde a
hora que deitara seu pensamento não parara um minuto. Vez ou outra um Espírito
desencarnado entrava no circuito e ela o doutrinava pacientemente.
Assim era a vida da
Clarividente Neiva. Sempre consciente nos dois Planos, na Vida Física e no
Mundo Etérico Invisível, ela cuidava de tudo e de todos sem interrupção.
Na medida em que a
noite avançava e os íons solares diminuíam seu bombardeio da superfície da
Terra, o Mundo Invisível ia se tornando mais movimentado. O Mundo das Sombras
tomava conta da vida nesta parte do Planeta. Os Espíritos, libertos do
magnetismo físico através do sono, percorriam sonambúlicos os arredores. Alguns
subiam claros e leves enquanto outros se arrastavam com dificuldade, próximos
aos leitos onde seus corpos repousavam. Uns brigavam e outros se abraçavam
alegremente. Esse é o curioso mecanismo da vida na Terra que nos relaciona uns
com os outros, à revelia de nossas posições sociais, idades e situações
econômicas.
Próximo às quatro
horas da madrugada, Neiva sentiu a presença de Mãe Tildes e saiu do corpo,
penetrando instantaneamente na outra dimensão.
De imediato sua
mente saiu da tensão física e ela se despreocupou. Assim acontecia todas as
noites, todas as madrugadas. Enquanto repassava os problemas através do
mecanismo psicológico sua ansiedade era grande. Logo que saia do corpo ela se
despreocupava e entregava sua Missão nas mãos dos Mentores Espirituais. A
partir desse momento, ela assumia com docilidade o papel de Clarividente a
serviço do Pai, e sabia que iriam começar a surgir às soluções. O Mundo para
ela, visto de dentro ou de fora do corpo, embora o mesmo, se apresentava muito
diferente.
E assim, após
sorridente troca de cumprimentos, Mãe Tildes e Neiva saíram em direção ao
“Trabalho”, o mundo cabalístico onde seriam solucionados os problemas dos que
buscavam a Corrente em busca de auxílio. Tantas vezes esse fato se repete que
para Neiva tudo é natural. Ela caminha sem preocupações ou noção de tempo,
embora saiba por onde está andando. Ela sabe como funcionam as coisas e quais
os assuntos programados para aquela jornada.
Mas o Comando está
nas mãos dos seus Mentores e ela aproveita para o relaxamento mental
indispensável. Enquanto isso seu corpo entra em repouso completo. As etapas do
caminho são demarcadas pela variação na luz e na iluminação, mas a jornada
segue controlada pelas vibrações de Capela.
Logo em seguida
elas se encontraram com Amanto, o Capelino responsável pelas jornadas de Neiva
nos Mundos Etéricos. Depois dos cumprimentos de costume, o trio prosseguiu na
Missão daquela noite.
Chegaram à Torre de
Marselha, um conjunto arquitetônico situado no limiar do Canal Vermelho (1), já
nosso conhecido pelas aulas anteriores de Tia Neiva. Nessa Torre existem uns
dispositivos habitacionais que podem ser comparados com as residências da
Terra. Na aparência essas “casas” são divididas como na Terra. Mas na verdade
elas são separadas umas das outras por campos de força. Um habitante de campo
vibratório diferente não penetra, a não ser que o morador o permita.
Pararam diante de
uma dessas casas e nesse momento Neiva se deu conta de que esse era um dos
objetivos dessa viagem. A casa pertencia ao Dr. Marcondes com sua família. Tão
pronto pararam, Neiva o avistou caminhando para eles com um largo sorriso nos
lábios, demonstrando tê-la reconhecido. Neiva permaneceu no limiar um pouco
indecisa. Ela conhecia a lei que rege essa parte do Mundo Etérico, e sabia que
sua entrada dependeria dos donos da casa. Isso não acontece por cortesia ou
educação, mas sim por uma questão de Individualidade Cármica. Cada Espírito, ou
grupos de Espíritos “habita” sua dimensão e tem seus privilégios.
Por isso ela ficou
um pouco surpresa quando a esposa de Marcondes, uma senhora de uns quarenta
anos mandou que eles entrassem. Entraram os três, mas para a família de
Marcondes, haviam entrado apenas Mãe Tildes e Neiva... Mãe Tildes era visível
para eles por estar na Aura de Neiva, o que, por razões técnicas, não estava
acontecendo com Amanto, que era visto apenas por Neiva e Mãe Tildes.
Passados os
momentos de surpresa inicial, nos quais as exclamações de Marcondes eram
ponteadas de “óhs...”, “Oh, Tia Neiva!, Oh, Mãe Tildes!, que bom vê-las aqui,
quanto me pedi a Deus por isso!”. Marcondes visivelmente emocionado começou a
falar, mas logo foi interrompido pela esposa. Sua voz traduzia alguma ansiedade
e era palpável sua preocupação em dizer tudo de uma vez.
– Já estou cansada
de manda-lo embora Tia Neiva (disse ela), mas parece que ele está vacilando
muito!
– Eu sei disso
minha senhora (interrompeu Neiva), sou Clarividente e sei o que está se
passando com vocês pois ainda vivo na Terra.
Mãe Tildes
voltou-se para Neiva e perguntou: – Ela sabe, fia?
Neiva acenou com a
cabeça afirmativamente e enquanto a senhora fazia menção de continuar falando,
Marcondes exclamou em voz alta:
– Oh, minha doce
Mãe Tildes! A senhora que já é uma Serva de Deus, tenha misericórdia de mim,
alivie o meu sofrimento na Terra, ajude a acabar com isso de vez, aproveite que
minha matéria já está cancerosa!
– Pobre Marcondes
(respondeu Mãe Tildes) isso não depende de mim, mas sim do seu carma. Volte
para seu suplício porque você ainda não terminou a sua pena!
Voltou-se então
para a esposa de Marcondes e continuou:
– Ora por ele minha
filha, apenas mais algum tempo e ele estará com você, tenha paciência.
Marcondes então
despediu-se da mulher e das visitantes e partiu para a Terra, sob os olhares
consternados das três mulheres.
Logo em seguida a
simpática senhora convidou-as a se instalarem melhor, ela mesma se revestindo
de um ar de tranquilidade.
– Pois é Tia Neiva
(começou ela), nós viemos do Engenho Velho lá da Bahia. Mãe Tildes nos conhece
bem, pois fomos vizinhas naquela feliz encarnação.
Mãe Tildes acenou
para Neiva como a confirmar o que a senhora acabara de dizer e ela continuou:
– Nesse tempo
Marcondes era dono de um Engenho e recebemos em nosso lar dezesseis filhos,
todos espirituais!
– Ah, como foi
maravilhoso! Imagine Tia Neiva, que todos eles haviam sido em encarnações
anteriores tremendos vikings!
– Oh meu Deus, como
eles eram caprichosos e sanguinários.
– Mas a feliz
oportunidade, dessa encarnação junto a Marcondes em nosso lar cheio de amor,
tornou possível transformar aqueles terríveis vikings (2) nos atuais Cavaleiros
de Oxosse.
– A propósito
(perguntou Neiva), onde estão eles agora?
– Como Cavaleiros
de Oxosse eles agora estão integrados na nova organização de São Sebastião. Dos
meus dezesseis filhos, cinco eram mulheres e elas agora estão integradas em
outras Falanges, junto às suas Almas Gêmeas. Esta Mansão, porém continua sendo
o lar delas, o nosso lar.
– Mas porque
(perguntou Neiva), o Sr. Marcondes continua na Terra e tão desnorteado?
Não (disse ela),
ele não está desnorteado, ele está na Terra porque pediu a Deus por isso.
Ele mesmo pediu a
Deus para reencarnar?
– Sim Tia, ele
mesmo pediu. Depois da encarnação do Engenho Velho, quando já estávamos reunidos
aqui nesta Mansão, embora feliz por estar com sua própria família, ele não
estava em paz.
– Mas, o que é que
o afligia?
– Certos erros
cometidos durante a encarnação do Engenho Velho.
A senhora sabe, não
é Tia? Na Terra as nossas preocupações com a gente mesmo fazem com que
esqueçamos dos outros, dos nossos cobradores que também vieram para se
reajustar e precisam de nós, de nossa riqueza. Foi o que aconteceu com a gente.
Quando partimos
para a encarnação do Engenho Velho todos haviam nos avisado que tínhamos pedido
muito. Nossas dívidas eram muitas e as cobranças seriam grandes, pedíramos
demais.
De fato, assim foi,
mas graças ao nosso amor conseguimos tudo que vocês estão vendo.
– Mas (perguntou
Neiva), se tudo saiu tão bem, porque o Sr. Marcondes teve que voltar à Terra,
teve que reencarnar?
– Porque quando ele
se encontrou aqui, com o Espírito livre das amarras da Terra, ele viu tudo que
havia feito, mas também viu tudo que não havia feito!
– Ele então pediu
para voltar, e Deus através dos seus Ministros concedeu-lhe essa prova, ou
melhor, essa missão que está cumprindo.
– Sim (disse
Neiva), mas afinal o que foi que ele deixou de fazer?
– Marcondes no
Engenho Velho era inclemente com os menos afortunados da sociedade. Ele pisava
naqueles que julgava estarem errados, ele sempre se arvorava em juiz do
povoado!
Oh meu Deus, ainda
está vivo em minha memória o caso daquela viúva cheia de filhos! A maioria
deles havia descambado para o vício e o roubo.
Um dia uma de suas filhas foi espancada pelo
marido, devido a um roubo que ela havia cometido e o caso se tornou público.
Marcondes ficou furioso e puniu a pobre mulher com violência excessiva. E a
partir daí passou a perseguir aqueles Espíritos desatinados com uma ira
implacável. Como sofreu aquela viúva!
Depois de nosso
desencarne quando nos instalamos em nossa Mansão, Marcondes soube que eles
também haviam desencarnado, mas que já tinham reencarnado para reajustar-se dos
desatinos que haviam feito no Engenho Velho.
Inquieto pelo que
havia feito a eles nessa encarnação, ele pediu para reencarnar também. De
acordo com seu Plano de Trabalho, ele acabou por se tornar o marido da antiga
viúva, que por sinal era novamente viúva quando Marcondes a encontrou. Por
outra incrível “coincidência” ela já era mãe de alguns filhos, e ao casar-se
novamente com Marcondes, teve outros filhos com ele e completou dezesseis
filhos, o mesmo número que tinha no Engenho Velho!
Para o Quadro ficar
mais completo, dentre os filhos gerados por Marcondes estava aquele Espírito
que no Engenho Velho fora a ladra espancada por ele. Quando eles conheceram a
senhora Tia Neiva, essa moça era casada com o mesmo Espírito que no Engenho
Velho fora seu marido...
Enquanto a
simpática matrona falava, Neiva de repente desandou a rir para ela mesma. Mãe
Tildes olhou para ela com ar de censura pela atitude insólita e ela, dominando
o riso explicou: – Pois é Mãe Tildes, desde o dia que conheci essa família ela
nunca mais me deu sossego. Imagine Mãe Tildes, que a primeira vez que fui
procurada por Marcondes, foi justamente porque seu genro havia dado uma surra
na mulher, na sua filha, e o motivo foi de um roubo cometido, aparentemente por
ela!
Desta vez, porém,
Marcondes agiu de forma bem diferente daquela do Engenho Velho. Com toda
paciência conseguiu reconciliar o casal e tudo acabou em boa paz. Por sinal que
atualmente esse casal é Médium no Templo do Amanhecer. A mesma atitude ele teve
com os outros filhos e todos estão bem encaminhados. Já faz cinco anos que
acompanho essa família!
Apesar disso, dessa
atitude correta de Marcondes, dona Judith nunca lhe deu sossego. Ela era um
desses Espíritos que nós, na nossa linguagem simples do Vale do Amanhecer,
costumamos chamar de “Espírito sem procedência”.
Nisso Neiva
percebeu que a visita estava chegando ao fim, que a missão deles naquela Mansão
estava terminada para essa jornada. A mulher com olhos que imploravam disse: –
Tia Neiva, enquanto Marcondes viver, essa mulher irá cobra-lo sem piedade.
Ajude-o Tia, sei que no Plano Físico a senhora tem muito poder e pode fazer
muita coisa!...
– Oh meu Deus!
(exclamou Neiva), me dê muita força, me sinto tão doente...
– Não minha irmã,
não desanime, Jesus e Pai Seta Branca precisam muito da senhora (disse ela com
ar compungido).
– Salve Deus
(disseram Mãe Tildes e Neiva) e partiram junto com o invisível Amanto.
Os três passaram
pela Torre de Marselha e viram que estavam chegando inúmeros Espíritos recém-desencarnados.
Um grupo de Mensageiros se preparava para socorrer os flagelados de uma grande
enchente que estava havendo num dos Estados do Brasil. Isso fez com que Neiva
se lembrasse de suas obrigações Missionárias, e ela se apressou no caminho de
sua Cabala (3). Nesse Santuário ela iria manipular as Forças Desobsessivas, e
ajudar no recartilhamento dos complicados carmas terrenos.
Neiva despertou com
a voz de Gertrudes que a chamava. – Madrinha, madrinha (dizia ela) acorde! Tem
uma moça esperando pela senhora aí na sala, uma filha do Sr. Marcondes que veio
busca-la, ele está passando muito mal!
Neiva entrou no
Plano Físico, conservando na memória o quadro vivo que presenciara naquela
Mansão dos Marcondes. A Casa Grande estava no seu habitual burburinho. Crianças
brincavam ruidosamente no pátio, pessoas insistiam em falar com Neiva,
Gertrudes reclamava de Neiva a TV dos meninos, o Farol do Dia (4) avisava que
havia poucos Médiuns para o Retiro e, a filha de Marcondes passeava impaciente
de um lado para outro à espera de Neiva.
Assim mesmo, sem se
desligar do Quadro vivido na madrugada, ela foi até o Hospital São Vicente onde
Marcondes estava internado. O táxi deixou-a na porta do hospital, e a filha de
Marcondes levou-a para o quarto do doente.
Neiva olhou para
aquele homem, que poucas horas antes falara com ela com tanta firmeza, quando
ainda no Plano Etérico, e buscou em seus olhos alguma centelha que lembrasse o
fato. Nada! Ele não se lembrava de coisa alguma. A cobrança cármica se
processava com perfeição!
Deitado na cama
alta do hospital, seu rosto revelava os sulcos profundos da dor implacável do
câncer. Os olhos febris procuravam os de Neiva num pedido mudo de piedade.
– Tia Neiva, Tia
Neiva (murmurou ele com voz dolorida) não me deixe morrer, por favor Tia,
ajude-me, ajude-me!
Neiva sentiu seu
coração apertar. O elegante Marcondes de algumas horas antes na Torre de
Marcelha, que com tanta firmeza pedira a Mãe Tildes para desencarnar logo, para
acabar com seu sofrimento na Terra, pedia-lhe agora para não deixa-lo morrer!
Nisso entrou pela
porta a dentro dona Judith, a esposa térrea e cobradora do antigo Engenho
Velho. Tão pronto ela deparou com Neiva, foi logo dizendo:
– A senhora tá vendo Tia Neiva? Ele está aqui
de teimoso e de pirraça! O pior é que vai acabar morrendo e me deixando sem
dinheiro, cheia de filhos e sem nada no que me agarrar.
Marcondes levantou
a cabeça sem poder sopitar um gemido de dor, e com ar resignado disse:
– Oh benzinho! Não
é assim como você está falando, isso que eu tenho não é um simples resfriado,
há muito tempo que eu tenho estes caroços no pescoço e não sei como isso foi
acontecer comigo!
Dona Judith
voltou-se para ele com ar irado e retorquiu: Como não sabe? E as pescarias e as
cachaças em que você se meteu? Foi nelas que você pegou essa porcaria toda! Só
depois que nós conhecemos essa santa mulher, que você tomou um pouco de
vergonha. Agora veja a miséria em que você nos meteu!
Nesse momento
entrou um médico de serviço. Usava barbas compridas que lhe davam um ar maduro
e no pescoço trazia o estetoscópio. Ele olhou para a cena desagradável com ar
de quem já está habituado a isso, e seus olhos fitaram Neiva por cima dos
óculos, com um misto de respeito e curiosidade.
Neiva aproveitou a
oportunidade e acenou para ele do canto onde se achava. Ele atendeu gentilmente
e Neiva discretamente, sem que os outros ouvissem, perguntou sobre Marcondes.
Câncer! Foi a lacônica resposta que ela recebeu. Diante do olhar sério de
Neiva, ele suavizou um pouco a expressão e perguntou: A senhora é parente dele?
– Não! (disse ela)
Sou apenas uma amiga do casal, meu nome é Neiva.
– Ah sim, a senhora
é Tia Neiva. A senhora tem um orfanato aqui perto, não é?
Neiva confirmou com
a cabeça e agradeceu a ele. Dona Judith continuava a vociferar e o ambiente do
quarto do doente era o pior possível. Marcondes voltara a encostar a cabeça no
travesseiro e cerrara os olhos com ar de submissão. Neiva não podendo mais
suportar aquela cena, despediu-se discretamente e voltou para a Casa Grande.
Gertrudes guardara
um prato de comida para ela, mas Neiva quase não comeu. Logo começou a atender
a ruma de consulentes que naquele dia era maior que de costume, mas não
conseguia se tranqüilizar. Ela sabia que Marcondes estava prestes a morrer, mas
o quadro continuava o mesmo: Dona Judith não parava de praguejar e as dores do
paciente aumentavam horrivelmente.
E assim a situação
continuou ainda alguns dias, até que fossem libertados todos os obsessores que
compunham aquele Quadro triste. Neiva não voltou ao hospital, mas não parou de
fazer trabalhos para ajudar aqueles Espíritos em reajuste. Marcondes não voltou
à Mansão Etérica, enquanto não se libertou com a morte.
Passaram-se alguns
meses depois da morte de Marcondes, um dia Neiva recebeu surpresa, a visita de
Dona Judith!
Ela parecia mais
moça e tinha um ar sorridente. Apresentou à Neiva um senhor de uns 60 anos com
quem havia se casado alguns dias atrás. Neiva então se lembrou que a idade dela
já beirava pelos 65 anos e sorriu polidamente. Tomaram um cafezinho que
Gertrudes serviu, e Neiva não pode deixar de notar que Dona Judith havia se
transformado na mulher mais feliz e bondosa do mundo...
Os anos foram
passando e Neiva continuou sua Missão Crística.
Em 1969 a Ordem se
mudou para o Vale do Amanhecer e com Neiva seguiu a ruma de crianças, moças e
velhos que compunham a Casa Grande.
O Vale cresceu, a
Doutrina do Amanhecer evoluiu, o mundo deu mais umas voltas no sidério e a vida
continuou.
Nesse domingo,
depois de uma Aula na qual Neiva aproveitara a história de Marcondes para
ilustrar o problema dos reajustes, ela sentou no Castelo dos Devas para o
“Emplacamento” de Médiuns. Esse trabalho que Neiva faz quase todos os domingos,
representa o esteio da autenticidade do Vale do Amanhecer. Os Médiuns vão sendo
desenvolvidos pelos Instrutores e quando já estão em condições de atender o
público, são “classificados” ou “emplacados” por Neiva.
O Médium senta-se
ao lado dela e atrás dela fica um Doutrinador. É feita a chamada do Mentor e
Neiva pela sua Clarividência, se entende com o Mentor do Médium. Escreve então
o seu nome num Cartão que o Médium usa a partir desse dia. Esse Cartão é
autenticado com a conhecida assinatura de “Tia Neiva”.
A jovem Médium
sentou-se, o Doutrinador fez a chamada e Neiva, surpresa, deparou com a figura
de Marcondes! Ela o reconheceu imediatamente e perguntou o que ele estava
fazendo ali, tão longe de sua Mansão Etérica.
Ele sorriu e
apontou para uma Preta Velha que estava ao seu lado, que também sorriu. Neiva
então reconheceu aquela Preta Velha, a linda senhora da Mansão, a esposa
espiritual de Marcondes!
Sem parar de falar
no Plano Físico com as pessoas que a cercavam, Neiva estabeleceu um diálogo com
o casal. Eles então explicaram que tinham vindo para falar com ela, pois haviam
pedido a Deus a oportunidade de trabalhar na Terra, no Vale do Amanhecer,
desenvolvendo Médiuns.
– É verdade Tia
(disse Marcondes), que nós não temos muito para dar, pois ainda não temos
graças para isso, mas nos sentimos felizes em poder pelo menos ajudar a abrir
as incorporações dos Aparás. Graças a Deus nossos filhos também estão aqui.
Salve Deus, Tia Neiva!
Neiva ficou
comovida, mas atenta na sua Clarividência, viu que a jovem Médium que ela iria
classificar naquele momento, era um Espírito que na Encarnação do Engenho Velho
fora filha da viúva que Marcondes tanto perseguira. Só que essa Médium era uma
das filhas de Dona Judith, do seu primeiro casamento, concebida antes que
Marcondes aparecesse em sua vida!
Notas do Texto:
(1) O Canal Vermelho é uma Casa Transitória para readaptação de Espíritos portadores de ideias e superstições em torno da reencarnação. Ele é caracterizado pelo fato específico de que os Médiuns, durante seu sono na Terra, podem trabalhar no Canal Vermelho, levando consigo o Fluído Magnético Animal de sua Mediunidade.
(2) Vikings eram antigos guerreiros navegadores, que fizeram expedições de conquistas entre os anos 800 e 1100 no norte da atual Inglaterra e toda a região circunvizinha. Eles eram considerados ferozes guerreiros, usavam cabelos compridos e barbas longas, geralmente eram ruivos avermelhados. Seus barcos tinham esculpidos nas proas cabeças de dragões, e suas legendárias figuras são sempre vinculadas a heroísmos e guerras.
(1) O Canal Vermelho é uma Casa Transitória para readaptação de Espíritos portadores de ideias e superstições em torno da reencarnação. Ele é caracterizado pelo fato específico de que os Médiuns, durante seu sono na Terra, podem trabalhar no Canal Vermelho, levando consigo o Fluído Magnético Animal de sua Mediunidade.
(2) Vikings eram antigos guerreiros navegadores, que fizeram expedições de conquistas entre os anos 800 e 1100 no norte da atual Inglaterra e toda a região circunvizinha. Eles eram considerados ferozes guerreiros, usavam cabelos compridos e barbas longas, geralmente eram ruivos avermelhados. Seus barcos tinham esculpidos nas proas cabeças de dragões, e suas legendárias figuras são sempre vinculadas a heroísmos e guerras.
(3) Cabala – Palavra Hebraica que designa aspectos secretos de uma
Doutrina. Para a Doutrina do Amanhecer a Cabala é o ponto no Plano Etérico onde
são manipuladas as energias da regência da Clarividente Neiva. Por isso ela se
refere sempre a “minha Cabala”.
(4) Farol do Dia é o Doutrinador responsável pelo Retiro daquele dia no
Templo do Amanhecer.
Salve Deus!
Com carinho,
A Mãe em Cristo.
TIA NEIVA
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Áudio: