27 de agosto de 2016

Os Caminhos da Doutrina do Amanhecer


Salve Deus!
Meus filhos Jaguares,

Explica-se a diferença entre a velha  estrada e o novo caminho. A velha estrada é cheia de medo, de temor a Deus. A velha estrada foi palmilhada por mil pessoas, mil teorias sempre escrita e nunca praticada, enquanto o caminho foi traçado pelo suor, pela própria energia de quem o escreveu e vive a emitir com tanto amor. Vamos sentir o caminho do amanhecer sem superstição e sem as teorias dos pensadores, pela vivência na prática, na execução desta doutrina e seus fenômenos extra sensórias. No respeito da dor alheia, na carinho dos humildes, no afeto das ninfas, no progresso e na compreensão de nossa família. Este é o caminho traçado para o homem na doutrina do amanhecer.

Quem diria, que naquela era distante, os enoques levassem tão alto esta filosofia, esta corrente. Sim, Pai João o mais velho, observava com mais precisão o desenrolar das vidas nos carmas. Suas preocupações aumentavam. Enquanto Pai Zé Pedro filosofava, reclamando de vez em quando. Os dias passavam sem qualquer anormalidade, isto é, sempre com fenômenos que ali já eram corriqueiros. Porém só deus sabia como e onde chagariam. Dias alegres, dias menos alegres, porém sempre em harmonia até que as forças foram se materializando e tudo começou a ser mais verdadeiro, mais preciso. Pai João se inebriava com todos aqueles  fenômenos e estava sempre a espreita dos mínimos acontecimentos, cochilando sempre debaixo de uma pequena árvore.
O pequeno arraial esta tranquilo quando Pai João, em um de seus cochilos, viu um finíssimo fio magnético entrando em uma das cabanas e, ao mesmo tempo, ouviu o grito desesperado de alguém que for atingido. Era fenômeno mediúnico, puramente espiritual. Era a jovem Iracema que rolava de dor na espinha, como se tivesse levado uma pancada. Pai João correu e fez uma elevação tirando-lhe a dor. Começou então a pensar que ele nada havia enxergado e no entanto tinha certeza de ter visto aquele fio saindo da cabana do feitor. Chamou Pai Zé Pedro, contou o que vira e dois começaram a ter medo da situação, Nisto Jurema manifestada por um caboclo. Começou a dizer:
- Meus filhos! Tomem cuidado, este feitor é o instrumento feliz de evolução. O pobre infeliz vive ainda pelas mãos caridosas de Sinhá Sabina. O fenômeno foi visto por vosmicê João.
- Como?, perguntou Pai João
- “ Ele vai entrando em transe e sua alma ruim, odiosa, pega a quem ele mais ama ou odeia”.
“ Salve deus” – Disseram todos de uma vez.
- “ E eu que pensava que somente os desencarnados atuavam...”
- “ Sim, - continuou o caboclo, “ Então em uma fornada para  desenvolvimento e até que passe todo o carma da escravidão”. “ O homem será feliz quando ouvir a libertação, disse Pai Zé |Pedro”. “ Não continuou o caboclo, o homem jamais se libertará, e dizendo isso deixou Jurema e se foi. Todos ficaram sem entender nada. Jurema entendeu e saiu correndo dali para a cabana do feitor, decidida a falar com ele e dizendo que iria matá-lo, quando Pai João interferiu dizendo:
- Jurema, a concepção da morte resulta de um entendimento da vida completamente errado, porque na verdade ela jamais existiu. O espírito não morre, então irá mil vezes nos atentar. Matando-o, ele ficará mais leve, mais sutil. Todos os que se perdem pelo pensamento e se enchem de ódio a serem desencarnados e no astral inferior evidente, voltam sendo mais comuns as suas crises furiosas. Vamos Jurema tentar doutrina-lo antes que morra se torne invisível aos nossos olhos.
Chegando na cabana do feitor, ele esta esticado numa cama de varas e capim. Sabina veio ao encontro sorridente e o feitor começou a espraguejas  e Pai João a lhe fazer doutrina, porém com medo de Jurema que observava com seus olhos verdes amendoados, disse escapando dos seus lábios:
- Pobre imperador! Viestes com tão nobre missão, no entendo eis o que restou. Pensa Eufrásio no que te digo. Vou levar Jurema e voltarei.
O dia já estava terminando, quando Pai Zé Pedro e Pai João se encontraram e se entenderam. Pai Zé Pedro deslumbrado, ficava repetindo:
- Irradiação dos encarnados, se desprende do corpo e se manifesta com a mesma leveza do espírito dos mortos, repetia.
Nisto um grito e em seguida, gargalhadas. Pai Zacarias cairá na cachoeira e estava todo molhado, porém nada lhe havia acontecido, senão o susto. Coisas desta espécie acontecia sempre. Sim, esta alegria durou pouco, chegou o feitor da fazenda onde Jurema vivia. Todos se assustaram co o visitante. Ele chegou arrogante  e já ia pegando Juremá, quando Tomaz gritou:
- Larga porco imundo, aqui é diferente” Nem tente, porque você vai morrer.
O feitor esporeou o cavalo e marchou para cima de Tomaz, que num minuto já estava por cima esmagando o seu estômago. Quando Pai Zé Pedro e Pai João chegaram era tarde demais. Tomaz já estava morto. Os gritos de todos fazia terror naquele lugar. O feitor foi fugindo, levando Juremá. Era grande demais aquela dor, ninguém se lembrou do feitor assassino e nem de Juremá. A morte de Tomaz veio trazer tanta tristeza, que mudou a sintonia do lugar. Os nagôs não falavam e não cantaram mais, na fogueiras riam algumas vezes, porém continuava a harmonia.
Começou então os projetos para buscarem Juremá. Tomaz fora quase criado com Pai Zé Pedro. Três Nagôs que muito amavam Pai Zé Pedro, resolveram buscar Juremá e calados sem que ninguém soubesse, fizeram uma matula na mochila e lá se foram sem os outros saber. Jurema viu na sua vidência. Pai João sentiu tudo, porém todos se fizeram de desentendidos e ninguém, impediu os três Nagôs. Jurema não olhava Pai João e nem Pai Zé |Pedro, ainda vivia o espírito de vingança pelo seu querido Tomaz.
Realmente! Chegou Joaquim e Cassiano co Juremá. Novamente o Reboliça. Juremá não falava, perdera a voz. Todos queriam saber o que houvera, porém ninguém dizia nada e também ninguém tinha coragem de perguntar nada. Todos em volta da fogueira e só se ouvia o murmúrio da cachoeira. Ninguém tinha mesmo coragem de quebrar aquele silêncio.
De repente Jurema deu uma risada e Janaína foi para perto e as duas se abraçaram, porém Jurema com uma atitude que não era dela. Salve deus! E chegando Joaquim e Cassiano:
- Porque fizeram isto? Mataram o feitor e o seu sinhozinho. Isto não é de um filho de Deus que está a caminho. Terás que voltar e receber como filho o feitor e tu Cassiano, terás o teu sinhozinho também. A estas alturas Cassiano e Joaquim já sabiam o que Jurema queria dizer.
- Me perdoe bom espírito, disse Joaquim, porém aquele malvado matou o nosso Tomaz com sua covardia.
Cassiano perguntou também se poderiam continuar vivendo ali.
- Sim, disse o espírito em Jurema, Deus não tem pressa. Cada um aqui assumirá a sentença ou libertação.
Jurema enchia-se de cuidados por Juremá. Tão logo terminou a incorporação, cada um voltou a seu estado de alma. Uns foram dormir, outros ficaram ali na fogueira, até novos gritos.
Meu Deus! Novamente o fio magnético. Novamente Iracema atingida pelo feitor Eufrásio. Tudo de novo, correrias até que Pai João liquidou com uma elevação, porém, não antes de muito trabalho. Os dias decorreram notava-se que Iracema cada dia ficava mais pálida, com ar doente, tudo ia de mal a pior.
Certo dia, fizeram uma vidência para saber o que deveriam fazer com a pobrezinha Vovó Cambina, vinda da Bahia para tirar o quebrante dos filhos da sinhá. Estando na sessão naquela noite, preferiu seguir os seus irmãos naquela jornada. Vovó Cambina da Bahia, rezou, Iracema com seu passe magnético foi melhorando e da maneira que ia se fortalecendo, ia também adquirindo forças para repelir. A estas alturas as coisas já haviam tomado um vulto muito sério. Ninguém se lembrava mais de Tomaz, toda concentração agora era no feitor Eufrásio. Fazê-lo seu amigo, antes que ele os atingisse. Sim, Pai João explicou que se doutrinassem ele deixaria de atacar com seu magnético. O feitor passou a ter constantes visitas e realmente foi melhorando, a ponto de chegar a pedir perdão muitas vezes.
Eufrásio passou a ser o confidente daquele povo. Sim, Eufrásio fora um grande senhor que perdera a sua fortuna e família no jogo e fora obrigado a tomar aquele lugar de feitor naquela fazenda da tragédia. Mais uma vez o homem se liberta por si mesmo. Pai João e Pai Zé Pedro estavam sempre a ensinar sua doutrina, seu amor e ele ensinava também o que sabia dos seus mundos de onde andara. Vovó Cambina da Bahia lhe rezava todos os dias e a vida apesar de sua harmonia, só agora voltava o normal das entoadas das fogueiras alegres.
Estavam todos sentados, quando ouviram um barulho no mato, como se fosse uma boiada disparada quebrando tudo. Cada um carregou suas espingardas e se estricheiraram. Eram porcos selvagens, porém, passaram por fora os Nagôs ainda mataram mais de 20, fazendo fartura de carne.
Pai Juvêncio e Zefa eram os únicos que tinham coragem de ir até um lugarejo por nome Abóbora. Chegando na entrada da cidadezinha, viu uma menina nos braços da mãe desacordada. Chamou Zefa, cochicharam nos ouvidas e benzeram a menina, isto é, tirou o espírito e a menina ficou boa. Tânia, a mãe da menina deu algumas frutas como pagamento e se desculpando por não ter mais nada. Juvência e Zefa comeram as frustas, trataram dos negócios e se encaminharam para casa. Felizes chegaram em casa, porém quando pisaram a soleira da sua porta deu uma enorme dor. As barrigas começaram a doer, doer a ponto de chamar Vovó Cambina da Bahia. Nada fazia passar uma porção de conjecturas. Seria Veneno? Porém as desinteiras pioravam e por incrível, eram os dois.
- Pobrezinhos, dizia Pai João. Resolveram tantas coisas boas para nós! Deve ser provação, deus testando seus corações.
Todos já estavam na fogueira e queriam notícias. Nisto Jurema que estava ao lado de Pai Zé Pedro, se levantou bruscamente, apontando para os dois que estavam abaixadinhos na roda da fogueira. Gemendo de dor disse:
- Ele comeram prenda, ganho pela sua caridade.
- Como? Disse Pai João. Pena Branca não quer que a gente ganhe nada em troca do que faz. Vô Agripino também disse:
- A gente só aprende com o espírito da carne fincando. É Pai João, todos nós temos um espinho na carne.
- Oh meu Deus! Gritaram de uma só vez. Sim, estamos conscientes.
Graças a deus, Vó Cambina já estava chegando com a cuia de chá, e eles após tomarem, contaram o que havia passado, todos abraçaram os dois por sua ação. Sim, era coro. Juvência e Zefa comeram prenda da caridade que fizeram. Sim, receberam pagamento e o Pena Branca não gosta nem de presente nem que cobre.
Zefa e Juvêncio ainda passaram mais uns três dias de dor de barriga. Tudo foi alegre e passou. Eufrásio, que agora era o conselheiro do grupo achou também muito importante. Primeiro as frutas que Pena Branca não aceita paga pelo  seu trabalho mediúnico e segundo a denúncia de Jurema em sua clarividência viu o que se passou. O pobre casal fora lesado pelas suas mentes preguiçosas. Tudo estava espiritualmente pronto. Pai Zé Pedro e Pai João se regozijavam da situação. Zé Pedro sempre perguntava:
- O que será de nós? Onde iremos? O que será de nós? Não seria melhor sairmos, em vez de esperar o mundo aqui? Eu já não suporto mais. Oh meu Deus!
- Zé Pedro! Quando o celeiro está pronto, o mestre aparece, palavras de Vô Agripino; disse Pai João.
 Pai ZÉ Pedro, Pai Lourenço, Pai Francisco e muitos outros dos 70 membros daquele grupo estavam inquietos,, exceto Pai João e Eufrásio o feitor, que firmes em Vovô Agripino estavam calmos. Nesta manhã Jurema avisou o Pai Zé Pedro que chegaria muita gente para se curar. Os Nagôs se reuniram e se entrincheiraram para recebê-los. Sim, já estavam ali há 2 anos.
- Lá vem eles, lá vem eles. Lá embaixo, lá vinha uma enorme fila só se ouvia gente pra esperar os chegantes. Zefa e Juvência reconheceram a mulher da menina e gritou:
- Jurema, Pai João, Pai Zé Pedro, são  gente em busca da caridade. E perguntando baixinho a Pai João:
- Não tem perigo da minha barriga dores?
- Não, respondeu Pai João.
FORAM CHEGANDO E ENCHENDO O AMBIENTE. Que maravilha, todos estavam felizes, a felicidade do missionário de Deus! Foi lindo., Suas curas desobssessivas, o amor, a dedicação de toda aquela gente.
Meu filho, eu gostaria de contar mais desta história. Porém Manoel, 7° Raio Adjunto Yucatã não deixa, porque ele é também um personagem da cachoeira do Jaguar. E você meu filho, procure se encontrar também.
Com carinho a mãe Cristo

Tia Neiva

Vale do Amanhecer, 07 de março de 1980.