31 de julho de 2016

Carta Aberta 4

Salve Deus!
Meu Filho Jaguar:
Esta carta tem um sentido mais profundo de amor, porque tudo começou da maneira mais original que já senti, vi, e ouvi, em toda minha vida.
Deus fez o homem para viver cem anos neste mundo e ser feliz no livre arbítrio onde ninguém é de ninguém; na liberdade total da alma que aspira nas afinidades do sentimentalismo, onde o SOL e a LUA, a CHUVA e o VENTO, tão distintamente controlados afetam.
Assumimos o compromisso de uma encarnação, e juntos partimos, não só pelas dívidas em reajustes, como também, pelos prazeres que este planeta nos oferece, sim, estando no espaço, devendo na TERRA, sentimos desolados e inseguros, porque estamos ligados pelas vibrações contraídas.
E neste exemplo, Jesus nos afirma, que só reajustamos por amor. Tudo começou assim:
Viajava para uma estação de água, e na velocidade do carro, uma linda mulher, marcando mais ou menos, dois anos de desencarnada, emparelhou ao meu lado e como se estivéssemos parados começou a contar sua vida que muito me impressionou pela maneira natural. Morava na cidadezinha por onde eu passara, e que amava perdidamente o seu esposo Antonê, era como se chamava. Porém, perdi a segurança e comecei a sofrer e fazê-lo sofrer, me inimizei com toda a família, passei a viver num suspense terrível, se saíamos para uma festa, e Ele estivesse alegre e feliz, eu começava a me torturar e acabava por manifestar qualquer mal, contanto que ele se sentisse infeliz e, estando triste eu começava também às minhas suspeitas. Olha, como martirizei a vida do meu pobre Antonê. Sim, de toda sua família, não tive filhos, porque filhos me separariam, não me dariam tempo de correr atrás do meu marido. Pensava nos conselhos de minha sogra, conselhos tão queridos que me davam mais suspeitas, até que rompi com toda família. Então Antonê começou a mentir-me, um dia o vi conversando com uma moça que havia sido sua namorada. Fiz um escândalo terrível. Porém, desta vez Ele permaneceu numa atitude afirmativa, e eu tive medo, depois Ele disse num tom firme:
- De hoje em diante, irei todos os dias na casa de minha pobre Mãezinha, que você destruiu, você não me impedirá. Sim, foi como se o mundo tivesse rodado para mim, parecia um outro homem. A sua personalidade que eu não conhecia, desde então, fui perdendo o controle, já agora sentia imenso o que havia perdido, toda minha arrogância, sem recursos para lutar. Pois, só temos forças quando estamos na lei do auxílio, amando ou por missão, porém não como eu odiando, comecei a sentir saudades do que havia perdido, chegava perto dele e, apesar de sua tristeza, Ele sempre me correspondia.
Pensei ter um filho, pois era o seu ideal, fomos ao médico, este um velho conhecido, disse com a intimidade que tínhamos, que um filho não encomendamos quando queremos e, disse mais, pela minha espansão, falta de controle, eu havia me descontrolado e precisava de tratamento e religião. Sai dali pensando como recuperar o que estava perdido. Propus pedir perdão a minha sogra, porém Ele me advertiu que minhas cunhadas ainda estavam sentidas demais comigo, não deveria então, chegar até lá. Fiquei isolada, porém Ele sempre meigo, cavalheiro comigo. Ele realmente me amava. Tínhamos uma fazenda perto dali, e Ele todos os dias ia trabalhar sem a minha vigilância.
Dois anos que eu já havia me moderado, Antonê veio me pedir uma assinatura para vender uma fazenda. Fazenda? Eu não a conheço, como você comprou? Sem me dizer nada, quem mora lá? Quem são as pessoas? Meu Deus! Não há ninguém, afirmava Ele! Vou lá antes de você vender! Não! Chega, disse Ele; Não suporto mais e, quer saber! Não quero mais sua assinatura, e foi saindo. Antenor, o nosso vaqueiro, contou tudo que estava se passando: Emilia, a professora e ex-namorada do meu marido, estava lecionando em uma fazenda vizinha e, disse mais, Ela não é amante dele, Eles apenas se queixaram de suas infelicidades. Por que D. Célia, se referindo a mim, o Sr. Antonê, eu já vi sair daqui chorando, muitas vezes dizendo: Se eu não amasse tanto Célia, eu um dia saia daqui e não voltaria mais. Chega , gritei! Não quero mais ouvir. Antonor foi embora e, eu sai correndo até a casa de minha sogra, porém Deus não deixou que eu a fizesse sofrer mais, uma camionete me atropelou, me levaram para o hospital onde vim a morrer. Não falava, porém via todos, minha sogra, meu marido e algumas cunhadas. Meu marido chorava com resignação, o padre veio, e me deu a extrema-unção, foi só o que me lembrei. E por muitos anos comecei a vagar, sempre me lembrando das palavras da extrema-unção "ressuscitar os mortos", então tinha medo de me afastar do cemitério e perder a oportunidade, não me encontrei com nenhum morto que fosse meu conhecido, apenas um ÍNDIO insistindo para que eu deixasse meu marido, enfim, que eu abandonasse o meu mundo, aquela cidade onde era tudo para mim, onde eu ainda tinha esperanças.
Todos os dias pela madrugada, um silvo muito grande nos despertava, e eu ficava na expectativa da ressurreição, e como seria se eu não conhecia nada que pudesse acreditar. Porém a minha mente, já estava tão habituada a crêr nas minhas calúnias, naturalmente, foi o fenômeno habitual. Este silvo vinha de um lindo homem vestido como um romano centurião, acompanhado de uma linda mulher romana, diziam coisas lindas, levavam pessoas junto com eles, porém somente eu não me convencia.
Um dia chegou um enterro, pensei, quem seria? Sete dias depois do enterro chegou Lazinha, uma mulher que se havia perdido, e sempre estava presente. Nós nos vimos e eu quis fugir, como sempre, Ela então me enfrentou. Célia aqui também? Este é o mundo que não pode existir orgulho, e com o mesmo Cinismo me desafiava com o olhar. Novamente começou a contar o que havia sucedido; Antonê viajou; Inácio seu cunhado quase matou “Zeca” chofer da caminhonete que me matara, depois "rematando" sabe, eu vou embora daqui. Sim, uma coisa muito falada na cidade, ninguém veio no seu enterro "sem pensar" no entanto, no seu Lazinha, foi tanta gente! Há disse; Graças a Deus, nunca infernizei a vida de ninguém, nem nunca levantei calúnia de ninguém, nem mesmo condenei Fugêncio, que me desonrou. Meus pais me botaram para fora da Fazenda, sofri, porem não condenei ninguém, hoje estão arrependidos e eu sai bem com todos, e agora vou-me embora. Pra onde? Nisto um Índio que se dizia chamar Tucuruy foi levando pela mão. Comecei a gritar ressurreição! Ressurreição! Espere a ressurreição... Não há ressurreição... Não é para uma cínica como eu. Oh! Meu Deus, como pude viver acusando e caluniando as pessoas, o que fiz?...Nisto vi ao longe, lá na minha sepultura Emília e Antonê ajoelhados, colocando uma rosa vermelha na sepultura, dizendo algumas palavras, fiquei onde estava e pela primeira vez, senti aliviada. Emília que tanto a caluniei. Logo que saíram, corri para lá e abracei a minha rosa, a última esperança na terra, pedindo a Deus por Emília e Antonê.
Nada me valeria a ressurreição, esta rosa é minha última esperança de um perdão, se Emília me perdoa, todo o mundo me perdoará. Fiquei ali extasiada não sei por quanto tempo, até que Tucuruy, o mesmo Índio que levou Lazinha, me entregou a senhora, Tia Neiva.
Meus filhos, eu então lembrei-me do que ensino: A MINHA MISSÃO É O MEU SACERDÓCIO.
Mesmo naquela viagem de estação de águas, eu era a mesma Sacerdotisa dos Templos.
Encaminhei-a com amor. E com o mesmo amor, vos entreguei meus olhos, que somente, Jesus é testemunha se por vaidade eu me afastar um dia.
Carinhosamente a Mãe em Cristo.

Tia Neiva

Vale do Amanhecer, 09/10/1977